domingo, 8 de março de 2015

O empoderamento feminino através da moda

Ser feminista no século 21 pode vir com várias contradições. Eu sou feminista, mas amo (e trabalho com) a moda, uma indústria que pode ser bastante opressiva para as mulheres, principalmente por conta da aparência intangível de que ela muitas vezes se apropria. Muitas meninas e mulheres olham para anúncios de marcas como Victoria's Secret e têm vergonha por não se encaixar em um padrão de beleza inatingível para a maioria delas. Seja por causa dos estereótipos criados pela mídia, ou pelas mudanças cada vez mais rápidas, a moda também é muito vista como superficial e até desnecessária.

De fato, na sua essência, pode-se dizer que a moda é uma indústria baseada no consumismo e em um nível de insegurança que pode fazer as pessoas se sentirem inadequadas e desaprovadas por não terem o corpo da Gisele ou um vestido da Versace.

Mas a moda é também uma das poucas formas de expressão em que as mulheres têm mais liberdade do que os homens [Greta Christina], e se nós, mulheres, ignorarmos a moda, estaremos cedendo o nosso poder de influenciá-la. Em 1851, a defensora dos direitos das mulheres Amelia Bloomer popularizou a saia bifurcada (uma espécie de calça), que dispensava o uso da crinolina. No século seguinte, Coco Chanel democratizou a calça feminina, libertando as mulheres de regras de vestimenta que não eram nada práticas.


A moda, inclusive, já foi usada também para fins políticos. As sufragistas, no fim do século 19, por exemplo, usaram joias com pedras nas cores verde, branco e violeta, que em inglês, -green, white, violet- formam a sigla GWV (Give Women Votes) que expressava a luta das mulheres pelo voto.

Depois da tentativa de independência feminina na década de 1920, que foi sufocada pela guerra, em 1960 finalmente veio a moda democrática, a libertação feminina e a revolução sexual. A criação da minissaia por Mary Quant e o smoking feminino por Yves Saint Laurent são apenas dois exemplos da história refletida na moda.

Nos últimos anos o feminismo vem se firmando cada vez mais e desmistificando comportamentos radicais do passado. Várias pessoas públicas, como Beyoncé e Lena Dunham, já fizeram declarações de empoderamento feminino, e a moda está mais permissiva do que nunca.

A mulher pode vestir o que diabos ela quiser!

Quando eu era criança logo fui ensinada que meninas não deveriam sentar com as pernas abertas, deveriam usar cor-de-rosa, se comportar como mocinhas, serem delicadas e femininas etc. Entrando na adolescência a situação parece ser mais intensa... "Tu não acha essa tua blusa/saia/short/vestido muito curto, não?" Mostrar a barriga e as pernas (!) se torna algo inadequado e eu lembro que quando meus seios começaram a crescer tentei escondê-los ainda mais porque eu achava que deixar parecer que eu estava me tornando uma mulher era ainda mais inapropriado.

Então há alguns anos, quando eu comecei a formar meus pontos de vista, principalmente contra o patriarquismo e pró a igualdade de gênero, eu percebi que falar para as mulheres como elas devem se vestir era parte de toda uma equação de poder, onde o gênero feminino estava sempre em uma posição inferior.

A mulher pode vestir o que diabos ela quiser, independente do que os homens, outras mulheres ou as tendências dizem. A moda desempenha um papel importantíssimo no empoderamento das mulheres, uma vez que perceber o que fica bem em cada indivíduo exige uma compreensão profunda de sua personalidade, incentivando a mulher a ganhar mais conhecimento sobre si mesma e, assim, aumentar a sua auto-estima vestindo o que a faz feliz.

Esse é o melhor momento para usar a moda pra expressar individualidade e estilo pessoal, e nunca se deixar ser usada por ela.

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